domingo, 3 de fevereiro de 2013

Quando a gente chega numa certa idade...




Meu amigo ia dizendo, ao me ouvir reclamar da balança: “Quando a gente chega numa certa idade...”. Interrompi-o imediatamente!  Nem sei exatamente qual seria a constatação ou o conselho, mas eu não admito, sob nenhuma circunstância, que me incluam nessa faixa etária periclitante, que é a tal da CERTA IDADE. E sei que “a gente” foi só uma forma polida de dizer “você”, porque o meu amigo é um cavalheiro, apesar deste deslize acachapante.

Alto lá, meu amigo! Se me dizem que eu estou na IDADE CERTA, pode até ser que eu aceite, ainda assim com ressalvas – sempre aparece algum engraçadinho para fazer aquela pausa misteriosa (misteriosamente cretina) e, em seguida, complementar a frase com uma piada irritante. Imagina se me saem com algo como “idade certa pra arrumar um marido”? Eu, ein! O mais seguro é não colocar as palavras “IDADE” e “CERTA” na mesma conversa, seja qual for a ordem dos fatores.

Se IDADE CERTA pode ser ruim, CERTA IDADE é sempre pior. UMA CERTA IDADE é a idade das trevas. Essa CERTA IDADE não se conta em anos, mas em quantidade de vezes que se vai ao médico, ao bingo ou às profundezas do ser. Dizer que fulano chegou NUMA CERTA IDADE, é dizer que neste exato momento ele está lascado, independente de há quantos anos ele tenha nascido.

Não é simples questão de cronologia. Absolutamente! Conheço pessoas com várias décadas de existência, mas que não chegaram nessa CERTA IDADE. E também o contrário, pessoas para quem a CERTA IDADE chegou espantosamente cedo, antes mesmo de aprenderem todos os 576 significados da palavra relacionamento – incluindo aquele que é sinônimo de “pensar mil vezes antes de falar”.

Tentar explicar qualquer infortúnio pelo fato de ter chegado a UMA CERTA IDADE é o mesmo que atribuir qualquer mau humor à TPM. Se o rapaz está nervoso, é estresse do trabalho, do trânsito ou peso das responsabilidades mundanas. Se a moça está nervosa, é TPM. Aprendam, marmanjos insensíveis, que há palavras que são verdadeiras granadas, cujo manuseio deve ser estudado friamente, sob pena de se perder um braço (ou outro membro mais estratégico) ao empregá-las erroneamente. Temeridade máxima: colocando TPM e CERTA IDADE na mesma frase, corre-se o risco de perder a própria vida.

Quanto ao meu amigo do início da história, quase sempre delicado, mas que pronunciou aquela frase tão infeliz, peço desculpas se me excedi na reprimenda. É que cheguei numa certa idade em que já não levo desaforo pra casa...

Hendye Gracielle