“Para chatear os
imbecis (...) para viver
à beira do abismo / para correr o risco de ser desmascarado pelo grande público
/ para que conhecidos e desconhecidos se deliciem / para que os justos e os
bons ganhem dinheiro, sobretudo eu mesmo / porque de outro jeito a vida não
vale a pena / para ver e mostrar o nunca visto, o bem e o mal, o feio e o
bonito (...) para ser lesado em meus direitos autorais”
(Joaquim Pedro de
Andrade /
Resposta musicada
por Adriana Calcanhotto)
Eu achava que amor à
primeira vista era coisa que não existia. Como Sereia no mar, São Jorge na lua
ou gentileza no trânsito. Ou coisa raríssima, como chuva no sertão. Amor à
primeira vista pra mim era extraterrestre – dizem que existe, eu quase acredito,
mas nunca vi.
Aí a pessoa vai para o
primeiro dia de aula da faculdade de cinema e audiovisual – sozinha, tímida, arisca.
Ainda em dúvida. Quando o primeiro professor a aparecer na sala se chama
Glauber, e o primeiro colega a se apresentar se chama Bergman, você começa a
desconfiar de que está no lugar certo. Ou é pegadinha, ou alguma sintonia
cósmica tá rolando. Não dá pra não se apaixonar.
As atividades vão acontecendo
e você vai se envolvendo mais e mais. Percebe que tem à sua disposição professores
incríveis, e incrivelmente acessíveis, professores envolvidos e empenhados como
você nunca viu em cursos anteriores (e no meu caso não foram poucos,
de faculdade de Direito a curso de saladas para iniciantes). Professores que parecem
estar prontos para mudarem o mundo com seu cinema – e também com seus estudos, seu
teatro, suas pesquisas, suas reflexões, sua arte... Discutindo questões
globais, agindo localmente. Eles são ardilosos e te seduzem para o curso. Não
tem como não se apaixonar.
Oferecem oficinas para
colocarmos logo a mão na massa, não tem como não se apaixonar. Organizam uma
semana especial para os calouros, não tem como não se apaixonar. Os veteranos
começam a mostrar suas produções, surpreendentemente boas, não tem como não se
apaixonar. Levam você para fotografar às duas horas da tarde no centro lotado da
cidade sob o sol de quase verão; não tem como não se apaixonar. Comentam das dificuldades
do curso, limitações de estrutura, problemas da faculdade, mas aí já era – não
tem como se desapaixonar.
Você chega se apoiando
toscamente nas suas certezas – as minhas eram crítica cinematográfica e
carreira acadêmica -, e é sugada por um jardim labiríntico das delícias: pode-se
produzir, dirigir, editar, roteirizar, pesquisar, filmar, montar, fazer
documentários, clipes musicais, animações, vinhetas educativas, vídeos
publicitários (não, obrigada), séries, games, programas de TV, e, até mesmo,
fazer cinema no curso de cinema. “Será que eu consigo?” Suas certezas tão
bonitinhas são de súbito derretidas, como as películas de antigamente. Plantam-se
dúvidas na sua cachola. Como não se apaixonar?
Não foi daqui de Conquista
que saiu o cara com “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”? Os equipamentos podem
ser poucos, mas estão inteiramente à disposição de nossa criatividade. Aliás, nunca
foi tão fácil ter uma câmera na mão. Uma ideia na cabeça já não sei. Mas aí depende
de cada um. A ideia a gente inventa, reinventa, desinventa, inventa de novo. A
melhor eu já tive: vir estudar, ver e fazer cinema na Bahia!
Mas para quê?
Para contar histórias mirabolantes. Para
mostrar o mundo como ele é. Para mostrar o mundo como poderia ser. Para mostrar
o mundo como eu gostaria que fosse. Porque “O Fabuloso Destino de Amélie
Poulain” ampliou meu olhar. Porque livro não tem trilha sonora. Para aprender a
trabalhar com gente. Para inventar pequenas felicidades. Para experimentar por uns tempos a dor e a delícia de viver de arte. Para sonhar em
preto e branco e com legenda de cinema mudo. Porque não é fácil. Para ter meu
nome nos créditos finais, mesmo sabendo que ninguém lê. Porque o Cinema Novo existiu.
Para amar ainda mais a literatura. Para dirigir um filme com Madê Prates. Porque
precisamos de arte, sobretudo em tempo de barbárie e cinismo. Porque passei no
SISU. Para escapar da vida de vez em quando. Para torná-la suportável. Porque
Woody Allen me persegue. Porque fazer cinema é assim; assado é fazer cinema
no interior do Brasil. Porque um dia vi “Ilha das Flores” e nunca mais fui a
mesma. Sei lá por quê. Por que não?
Hoje é por isso. Daqui a tantos
anos, outras respostas quererão se revelar. Estarei aqui pra escrevê-las. Menos
deslumbrada; quiçá ainda mais apaixonada...
Meu lado cético tinha
razão: amor à primeira vista é coisa de cinema!
***
Hendye Gracielle
Vitória da Conquista - BA
Como não se apaixonar?
ResponderExcluirComo não passar por aqui e perder isso?! ;)
ResponderExcluirFaz esse favor, continue escrevendo.
Coleguinhas que me incentivam, coisas lindas!
ResponderExcluirObrigada pela visita!
Beijos!
Arrepiada!
ResponderExcluirArrepiada!
ResponderExcluirQue bom!!!! :D
ExcluirValeu, professora inspiradora! ;)
Meu processo não foi o mesmo, mas a paixão sim. Lindo texto, minha caloura!
ResponderExcluirValeu pela visita, veterana! E valeu por tudo na semana de integração!!
ExcluirArrasou!
ResponderExcluirQue bom que gostaram! Valeu!!
ExcluirAdorei, massa demais, pessoa!!!!!!!!!!
ResponderExcluirVai ser minha cineasta favorita, rsrsr. Comece a produzir aí e faz logo um curta pra publicar por aki, :D
Dalila.
Valeu, colega! ;)
ExcluirRealmente: como não se apaixonar? Você é demais e muito mais! Belo, incentivador e encantador, o texto. E vc, é claro! Dindinha
ResponderExcluirDindinha, que bom você por aqui! Você me incentiva muito! Valeu! Beijos! Te amo! :)
Excluiraté eu quero estudar cinema, pois acredito que a vida é uma arte, nascer, viver, morrer, cada um com sus estória.Amo seus textos Gra, nos presentei sempre.Tava meio afastadode seus fãs, aônimos ou não, eu sou declarado. jo te amo.
ResponderExcluirEi, Joca! Obrigadíssima pela visita!!! Que bom que curte os textos, volte sempre! Valeu demais! Beijocas. Saudades...
ExcluirTe amo.
ResponderExcluirQue texto bárbaro, filha!
ResponderExcluirMesmo quem não se interessa muito pelo tema se apaixona.
Parabéns! Tenho muito orgulho de você!
Te amo mais que o infinito!!!
Mamãe
Lindoo ou melhor linda, você!
ResponderExcluirBelo texto, Caloura.
ResponderExcluirUma das poucas desse curso que não se deixam se abater pelas dificuldades.
Mesmo não gostando de Glauber (o cineasta, não o professor), fez-me querer rever Deus e o Diabo na Terra do Sol.
Avante nesse curso.
E como vive dizendo Glauber (não o cineasta, o professor que também é cineasta): Cinema em Conquista é Cinema de Guerrilha. Então, às armas!
Tão encantador seu texto, sua paixão.
ResponderExcluirDe fato, inevitável é se apaixonar! ♡