“Agora eu era o rei, era o bedel e era também juiz
E pela minha lei, a gente era obrigada a ser feliz
E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar que andava nua pelo meu
país”
(Chico
Buarque – João e Maria)
Porque
sinto como meus todos os seus dias antes de mim, assim como são suas todas as
minhas horas antes de sua vinda; por isso celebro, como meu, o seu aniversário.
Foram
meus todos os seus minutos, todas as suas dores, todas as lágrimas, todas as
quedas, todas as conversas, todas as alegrias, todas as frustrações, todas as banalidades,
todas as provações, todas as fantasias, todas as decisões, todas as noites em
claro, todas as idas e vindas e voltas e reviravoltas dos caminhos que você percorreu,
porque levaram ao irremediável momento em que nossa vida se tocou. Foram meus
os seus rumos, foram seus os meus destinos, porque conspiraram sorrateiramente
para que nossa vida se complementasse (e se complicasse) tanto e tão
irresistivelmente e tão deliciosamente, no tempo em que nós nos apaixonamos.
Celebrar,
portanto, não os seus quarenta anos, mas os nossos, posto que são meus todos os
dias, todos os meses, todos os anos de sua existência.
Festejar
hoje a alegria do amor cultivado com o mesmo desvelo com que se cultivam as
flores raras, belas, levemente tóxicas e ainda não nominadas.
E
desejar ainda mais.
Aos
cinquenta, a bem-aventurança de um refúgio todo nosso: uma casinha com fotos
minhas, suas, nossas; seus livros de teatro, meus DVDs em ordem alfabética, sua
plantinha frutífera, minha TV alaranjada, sua forma de bolo, minha pasta de
recortes, sua mania de perfumes, minha mania de trocar de escova de
dentes...
Aos
sessenta, os deslumbramentos e estupefações de um mundo repentinamente acolhedor,
que descobriremos lado a lado! (E banhos de chuva, e fotografias insólitas, e
cochilos na rede ao entardecer...)
Aos
setenta, amar os ocasos, as madrugadas, as alvoradas, as astúcias de uma vida
reinventada, os inevitáveis adeuses e os desejáveis regressos. (E filmes
velhos, e livros novos, e vinhos raros.)
Aos
oitenta, redescobrir o encantamento de nós mesmas, no alvorecer de uma nova
estação. (E presentes inesperados, e flores sem motivo, e beijos roubados.)
Aos
noventa, lembrar contigo todos os momentos, a vida possível e a que não foi, o
tempo vivido e o sonhado... (E poemas trocados, e desejos revelados, e juras de
amor.)
Aos
cem, a delicadeza do carinho antigo e sempre novo. E quem sabe a coerência
suprema do simultâneo desaparecimento: cessado o tempo de coexistir, possamos juntas
“desexistir”.
“Vem,
me dê a mão
A gente agora já
não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido”
Todas
as horas serão nossas; todas as horas e o depois.
Hendye Gracielle
12 de maio de 2015
Hendye Gracielle
12 de maio de 2015
Vale um comentário com um século sentimental de atraso?
ResponderExcluirVocê é linda. Mais que demais, mais que esta crônica emocionante que me embasbacou naquela noite... e sempre.
Você é linda, sim! ��
Madê
E a minha inveja só aumentou!
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