domingo, 6 de março de 2016

AWÊRY (pelo riso fácil, pela comoção dolorida, pelo espanto de me ver fora de mim)




Ontem.

Ontem eu vi uma arena iluminada virar um caleidoscópio de delícias. Vi redoma de flores, escuro preenchido de aplausos, peraltices de luzes saltitantes. Ontem eu vi um vestido vermelho sonhado de azul.

Ontem eu ouvi o silêncio entre uma batida e outra do tambor do coração; ouvi pau de chuva, canto suave, grito tosco, violino arranhado no escuro. Ontem eu ouvi vozes.

Ontem eu vi uma moça se mover com uma seringa agulhada no pescoço, cantando o desespero de qualquer uma de nós. Sem efeitos especiais, sem truques de montagem, sem playback. Com um corpo, uma existência e uma aflição.

Ontem eu vi um homem acanhado brotando sementes dos bolsos, dos sapatos, das dobras da roupa, das dobras da vida.

Ontem eu vi mulheres desnudarem seus corpos revelando nossas próprias vivências. Vi peles expostas e desejos de sermos nus.

Ontem eu me vi vivendo outras vidas e vi outras vidas vivendo de mim. Vi brincarem a sério com a dor e a delícia de existir. Entendi, desentendi, alucinei, escapei, revigorei, embriaguei, despertei; me acabei de tanto rir.

Um sonho de olhos abertos, uma viagem para dentro, uma inesperada lucidez.   

Ontem... eu fui ao teatro!

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Obrigada, Awêry Vivências Cênicas. Awery!








(Fotografias lindas da Erica Daniela linda)