Passei cinco anos picaretando na faculdade de Direito. Não me entenda
mal. Eu tenho muito respeito pela faculdade pública, e conheço minhas
responsabilidades sociais em ocupar uma vaga que é
custeada pela sociedade. E ainda pretendo reverter meus conhecimentos
profissionais (assim que eu os encontrar) em benefício da comunidade carente
(de dinheiro, de educação, de atenção ou de amigos, carência da qual também
padeço e sei como dói).
Mas que eu picaretei, isso
sim. Pelo menos dentro da sala de aula, onde pode-se dizer que apenas espelhei
o que 80%
dos advogados vigaristas, digo, professores queridos também
faziam lá dentro. Picaretar. Picaretagem jurídica era a disciplina mais
prestigiada da grade.
Não foi preciso muita
clarividência para perceber que, nos anos de faculdade, foi fora da sala de
aula que me formei. E nem estou falando das noites boêmias nos bares
circunvizinhos, embora isso tenha contribuído sobremaneira para minha educação
sentimental. Estou falando da faculdade mesmo, de todas as experiências que ela
nos proporciona, fora da sala mas dentro de sua aura, naquele ambiente que nos
instiga e nos amadurece. São os anos em que a gente aprende a se posicionar em
face do mundo, superar nossas fraquezas, descobrir nossos valores, nossas
paixões. Onde tudo é novo e nada é vão. Ou vice-versa.
O fato é que, mesmo na base
da picaretagem, foi nos anos de faculdade que me formei para a vida, agucei o
espírito crítico e o gosto pela reflexão. Por isso recomendo a todos os que amo
que façam faculdade (aos que odeio, desejo apenas o inferno-astral do
cursinho). Apaixonei-me pelo ambiente acadêmico, tanto que voltei a estudar,
agora em pós-graduação. E comprovando que se trata de regra, e não de exceção,
encontrei em outra instituição de ensino as mesmas picaretagens dos tempos de
faculdade.
Na aula de pós-graduação
dessa semana, por exemplo, o professor passou bastante tempo falando sobre
coisas inúteis, numa profusão de clichês reproduzida por boa parte dos colegas.
Em seguida, prescreveu um trabalho para casa. É de conhecimento notório que a
forma mais elegante de picaretagem docente é representada pelos trabalhos acadêmicos, pelos
quais se transfere ao aluno a obrigação de dar aula. Mas admito que, ao fim e
ao cabo, a gente acaba aprendendo alguma coisa, desde que a pesquisa
tenha ido além do famigerado “ctrl+c
/ ctrl+v”. Recurso este que nunca utilizei, entenda-se
bem, que minha picaretam é à moda antiga e não admite cópia. Sou uma picareta
de princípios!
Voltando ao tal
trabalho, a atividade consistia
em redigir um texto dissertativo sobre o tema da informação. Desconfio que
o mote tenha sido escolhido pelo professor lá
na hora mesmo, pois o assunto saiu do nada e foi a
lugar nenhum. Picareta ele,
vigarista eu: produzi o texto, e busquei empregar-lhe certo estilo, posto que a boa
forma disfarça o mau conteúdo. Como nem sei se o professor vai se
dar ao trabalho de ler o texto (muito menos meu blog, assim espero!), resolvi
reproduzi-lo aqui (vide postagem anterior), para que tenha ao menos um leitor
imaginário. Porque picaretagem demanda esforço e merece reconhecimento.
Fiz o texto com bastante
esmero, procurando
alcançar o estado da arte em picaretagem acadêmica, que consiste em
escrever muito sobre coisa alguma.
E
assim temos feito.
Hendye Gracielle
Em tempo: agradeço de
coração aos 20% dos professores comprometidos do curso de
Direito da Unimontes, que foram fundamentais na minha formação. Abraços
efusivos aos verdadeiros mestres, com carinho.