terça-feira, 17 de dezembro de 2013

RÉQUIEM PARA FLORES - Pequena crônica de adeus

"– A vida, senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. (...). Um rosário de piscados. Cada pisco é um dia. (...) e por fim pisca pela última vez e morre.”
(Monteiro Lobato)



O fato mais assombroso da vida é viver e, de repente, não viver mais. A pessoa existir durante a vida inteira e, num segundo, desexistir. E esse segundo ser pra sempre. E o “pra sempre” ser igual a “nunca mais”.

A morte é mesmo o paradoxo da vida. Seu oposto e sua continuação. Seu natural e sua negação. Mesmo certa para todos os viventes, quando chega, com ou sem prévio aviso, nunca deixa de surpreender. É porque se morrerá um dia que se dá valor à vida. E quando uns morrem é que outros aprendem a viver.

A astronomia nos ensina que continuamos a perceber o brilho das estrelas mesmo após elas já terem desaparecido do universo. E que quanto maior a estrela, menor seu tempo de existência. A astronomia nos ensina para a vida.

Embora dispersos pelo mapa, estamos todos juntos no cais de partida, acenando com a mão as mais sentidas despedidas ao navio que parte levando uma pessoa que aprendemos a amar. Felizes pelo (breve) encontro, angustiados pela (incompreensível) partida, inseguros, mas acreditando que nenhum navio parte sem rumo, nenhuma pessoa parte sem explicação.

Por isso temos braços longos para os adeuses (...)
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
(Vinicius de Moraes)

Adeus, Lívia Flores. Adeus, Lívia Estrelas.

Até quem sabe. A Deus.

Fiquemos em paz.


Para meu Tio querido.