sexta-feira, 18 de maio de 2012

"Registro meus parabéns" (ou Dos Afagos Burocráticos)



Semana passada foi aniversário de uma colega de trabalho. Todas as pessoas do setor receberam um e-mail automático, avisando do relevante acontecimento. Daí que vários colegas telefonaram, mandaram e-mail, torpedo, fax, recado, comunicator, sinal de fumaça ou vibrações positivas para ela. Algumas mensagens menos, outras mais inspiradas; alguns abraços mais, outros menos sinceros.

Uma das felicitações mais curiosas foi o e-mail enviado por um colega de outra cidade, um profissional bastante eficiente que poderíamos chamar de funcionário padrão, se isso ainda fosse elogio. Era assim:

“Registro meus parabéns! Atenciosamente, fulano de tal.”

Como assim, “registro” meus parabéns? Que maneira burocrática de se felicitar alguém! Será que foi pra “constar” que ele é educado? Arquivamento para futuras providências? Evitar que a data prescrevesse?

Na falta de criatividade, em vez do insosso “registro meus parabéns”, não teria sido melhor empregar as fórmulas já gastas pelo uso, mas consagradas pelo costume, tais como “muitas felicidades”, “seja feliz”, “parabéns”, “feliz aniversário”, “carinhosamente”? Concluo que não se trata de falta de criatividade, e sim de “burocratismo” em fase aguda. É que a monotonia do trabalho burocrático acaba se entranhando na gente, funcionário de escritório do setor público ou privado.

Eu até encaminhei à minha colega, como sugestões de resposta: “Está registrado, grata, ciclana”. Mas a idéia dela foi melhor: “Prezado fulano, acuso recebimento”.


Faz uns seis anos, eu ainda não era burocrata, quando descobri que foi Max Weber um dos maiores entusiastas da burocracia na era moderna. Um sociólogo, quem diria. A intenção era nobre, na prática é que o objetivo foi desvirtuado, o que é muito comum e já não surpreende. A burocracia virou um fim em si mesmo.

Havemos de estar sempre alertas pra que o automatismo do ambiente profissional não contamine o restante da nossa vida (para os que ainda a têm). O formalismo da burocracia tem braços de polvo, e de forma lenta, gradual, mas segura, vai invadindo o espaço das relações interpessoais. Ou das relações espirituais, como certa vez aconteceu comigo, ao fazer uma oração matinal. Foi assim:

“Prezado Deus, bom dia! Favor proteger minha família e meus amigos. Gentileza relevar minhas falhas, que serão devidamente retificadas. Desde já agradeço as graças recebidas. Atenciosamente...”

Só no atenciosamente (!) é que saí do automático e me dei conta do absurdo da situação. Daqui a pouco vou exigir de mim mesma um número de protocolo pra falar com Deus. E não me surpreenderia se o mesmo resolvesse me atender somente com hora marcada!

9 comentários:

  1. Oração matinal??
    Temos q conversar...

    Dalila

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  2. Perspicaz!

    PS.: a oração matinal foi um tapa de luva pra também! Rs...

    ;)

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    1. Pois é, coleguinhas...

      A luta dentro dentro de mim é diuturna, entre o imperativo da razão e meu desejo (e necessidade) de continuar a ter fé.

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  3. Sua sorte é que Deus tem call center "eficiente" e "vai estar atendendo sua oração" de qualquer jeito. Em meio a tanta burocracia, formalidade e puxa-saquismo, difícil é ser "a contramola que resiste"... mas acho que vale a pena tentar.

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    1. Boa, Fernando! Vamos tentando, e vamos que vamos, que dá.

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    2. pô, velho. Te amo! vamos nos regulamentar entre todos os cantos e não somente com as "burrocracias" e seus efeitos... O afeto existe! Vamos nos afetar com ele!

      Aqui é Ana, Grá. Ah, não... Você me chama de Carol. rsrs
      abraços sertanejos!

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    3. Afetemo-nos, então!

      Ana Carol, que honra! Muito obrigada.
      Carinhos efusivos pra você! Saudades...

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    4. PS.: E mesmo que vc não tivesse assinado como "Carol", pelo "pô, velho" eu teria sacado!!!!!

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  4. Poxa, eu ri com o “Prezado fulano, acuso recebimento”. Muito bom!

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