Semana
passada foi aniversário de uma colega de trabalho. Todas as pessoas do setor
receberam um e-mail automático, avisando do relevante acontecimento. Daí que
vários colegas telefonaram, mandaram e-mail, torpedo, fax, recado, comunicator,
sinal de fumaça ou vibrações positivas para ela. Algumas mensagens menos, outras
mais inspiradas; alguns abraços mais, outros menos sinceros.
Uma
das felicitações mais curiosas foi o e-mail enviado por um colega de outra
cidade, um profissional bastante eficiente que poderíamos chamar de funcionário
padrão, se isso ainda fosse elogio. Era assim:
“Registro meus
parabéns! Atenciosamente, fulano de tal.”
Como
assim, “registro” meus parabéns? Que maneira burocrática de se felicitar
alguém! Será que foi pra “constar” que ele é educado? Arquivamento para futuras
providências? Evitar que a data prescrevesse?
Na
falta de criatividade, em vez do insosso “registro meus parabéns”, não teria
sido melhor empregar as fórmulas já gastas pelo uso, mas consagradas pelo
costume, tais como “muitas felicidades”, “seja feliz”, “parabéns”, “feliz
aniversário”, “carinhosamente”? Concluo que não se trata de falta de
criatividade, e sim de “burocratismo” em fase aguda. É que a monotonia do
trabalho burocrático acaba se entranhando na gente, funcionário de escritório
do setor público ou privado.
Eu
até encaminhei à minha colega, como sugestões de resposta: “Está registrado, grata, ciclana”. Mas a
idéia dela foi melhor: “Prezado fulano, acuso
recebimento”.
Faz
uns seis anos, eu ainda não era burocrata, quando descobri que foi Max Weber um
dos maiores entusiastas da burocracia na era moderna. Um sociólogo, quem diria.
A intenção era nobre, na prática é que o objetivo foi desvirtuado, o que é muito
comum e já não surpreende. A burocracia virou um fim em si mesmo.
Havemos
de estar sempre alertas pra que o automatismo do ambiente profissional não
contamine o restante da nossa vida (para os que ainda a têm). O formalismo da
burocracia tem braços de polvo, e de forma lenta, gradual, mas segura, vai
invadindo o espaço das relações interpessoais. Ou das relações espirituais,
como certa vez aconteceu comigo, ao fazer uma oração matinal. Foi assim:
“Prezado Deus, bom
dia! Favor proteger minha família e meus amigos. Gentileza relevar minhas
falhas, que serão devidamente retificadas. Desde já agradeço as graças
recebidas. Atenciosamente...”
Só
no atenciosamente (!) é que saí do automático e me dei conta do absurdo da
situação. Daqui a pouco vou exigir de mim mesma um número de protocolo pra
falar com Deus. E não me surpreenderia se o mesmo resolvesse me atender somente
com hora marcada!
Oração matinal??
ResponderExcluirTemos q conversar...
Dalila
Perspicaz!
ResponderExcluirPS.: a oração matinal foi um tapa de luva pra também! Rs...
;)
Pois é, coleguinhas...
ExcluirA luta dentro dentro de mim é diuturna, entre o imperativo da razão e meu desejo (e necessidade) de continuar a ter fé.
Sua sorte é que Deus tem call center "eficiente" e "vai estar atendendo sua oração" de qualquer jeito. Em meio a tanta burocracia, formalidade e puxa-saquismo, difícil é ser "a contramola que resiste"... mas acho que vale a pena tentar.
ResponderExcluirBoa, Fernando! Vamos tentando, e vamos que vamos, que dá.
Excluirpô, velho. Te amo! vamos nos regulamentar entre todos os cantos e não somente com as "burrocracias" e seus efeitos... O afeto existe! Vamos nos afetar com ele!
ExcluirAqui é Ana, Grá. Ah, não... Você me chama de Carol. rsrs
abraços sertanejos!
Afetemo-nos, então!
ExcluirAna Carol, que honra! Muito obrigada.
Carinhos efusivos pra você! Saudades...
PS.: E mesmo que vc não tivesse assinado como "Carol", pelo "pô, velho" eu teria sacado!!!!!
ExcluirPoxa, eu ri com o “Prezado fulano, acuso recebimento”. Muito bom!
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