Paulo
Mendes Campos já nos ensinou a diferença entre chatear e encher. Cá com os meus
botões, eu tenho uma teoriazinha que diferencia o chato do sistemático. O chato
é aquele que incomoda o outro. Chato é carrapato, o povo diz, com sua sabedoria
prática e plurissignificativa. Chato é o pica-pau, o Ace Ventura, o Faustão. Já
o sistemático não incomoda, mas se sente incomodado pelo outro. É o eterno
personagem do Woody Allen. É o fresco. Sou eu.
Definitivamente,
eu sou sistemática. Cinematograficamente sistemática. Incomodam-me coisas
grandes, como celular tocando durante a projeção; coisas pequenas, como o
barulho do saquinho de pipoca; coisas esdrúxulas, como gente chutando a cadeira
da fila da frente; coisas normais, como tosse e espirro dentro do cinema.
Aliás,
pesquisas de Harvard ou de Cambridge já devem ter descoberto os genes que
controlam os neurotransmissores que produzem o pigarro (alheio) nas horas mais
impróprias. Alguém vai tossir no momento em que o personagem fizer a maior
revelação do filme de suspense, se declarar no romance, ou disser a frase mais nonsense no filme cult. E eu não vou
ouvir. (No caso do filme cult, não faz mal, porque eu não iria entender mesmo).
É sempre ao meu lado aquele barulho incômodo de gente existindo.
Também
acho insuportável quando todo mundo começa a se levantar e a conversar segundos
antes do término da projeção. Será que ninguém vê que eu estou tentando ler os
créditos finais? No meu código de conduta em espetáculos públicos, não se deve
desgrudar a bunda da cadeira até que as luzes se acendam.
Por
essas e outras, eu assinaria qualquer abaixo-assinado para projeto de lei que
proibisse comida, conversa e circulação durante a projeção. Seria da maior
relevância cultural, né não? Entrou no cinema, está proibido de emitir ruídos
de qualquer espécie. Exceto nas comédias, que só são engraçadas no cinema, justamente
porque a risada é contagiante. Nos demais filmes, deve-se proceder com quietude
reverencial.
Imagina
se alguém conversa na hora do “Rosebud”, do
“I see dead people”, do “We’ll always have Paris” ou do “Dadinho é o caralho, meu nome agora é Zé
Pequeno”? Imagina se alguém atravessa na minha frente na hora do iceberg,
nunca mais eu iria entender como Deus afundou o Titanic...
Hendye
Gracielle
Hitchcock é dos meus! |
***
Se você ainda não sabe a diferença
entre chatear e encher, é só conferir a crônica do Paulo Mendes Campos no
volume dois da coleção Para Gostar de Ler. Mas se você não
sabe o que é Para Gostar de Ler, ou
você não teve infância ou ela aconteceu depois dos anos oitenta. Em ambas as
hipóteses, você não tem salvação.
"É sempre ao meu lado aquele barulho incômodo de gente existindo". Creeeedo, depois eu é q sou a chata. Vc me supera d longe. Fresca!!!!!!!
ResponderExcluirQual o filme q vc foi ver??
Dalila.
Você é chata. Eu sou sistemática!...rrsrsr
ExcluirFui ver filme nenhum, a semente dessa crônica foi no Festival de Cinema de Montes Claros!
Beijos!
Simplesmente hilário! Confesso que, a mim também, muitas coisinhas incomodam... No seu caso, pelo menos rende crônica!
ResponderExcluirSabe que jurava que a diferença ultra básica entre chatear e encher me tivesse sido dada pelo Stanislaw Ponte Preta? Acho que tá na hora de voltar a ler a sacrossanta coleção Para Gostar de Ler: Eternos clássicos da minha infância...
Grande beijo!
Edilza
Ei!! Hilário agora, né. Na hora que acontece é a morte...rsrs.
ExcluirEu também jurava que era do Stanislaw, mas ainda bem que não confiei na minha memória antes de publicar...rsrs.
Mas vale ler a coleção novamente. Eu já quis ler na ordem de publicação, ainda farei isso...rsrs. "Sacrossanta", boa! E olha que sua infância nem foi nos 80, né...rsrs
Beijos!! Obrigada!
Ah neeem!!! Visito religiosamente o blog, comento, curto no face, faço campanha... e é isso que recebo em troca! Aff...
ExcluirFoi mal aê...
ExcluirSua sorte é que suas crônicas tem me ganhado... kkkk
ExcluirAi ai... acho que "Para NÃO gostar de ler" foi pra mim! rsrsrsrs
ResponderExcluirPois bem! Você sempre nos surpreendendo!
Dindinha é muito sistemática mesmo... Eu sou Sistemática e chata, ne?
rsrsrsrs
Bjos te amo ♥
Ei, Tia! Sistemática e chata... Ainda bem que vc mesma já confessou...rsrs. Mas não faz mal, de perto ninguém é normal...rsrsrs
ExcluirValeu. Beijos. Te amo.
Não sei o que está melhor: o post ou o post-scriptum... (ou o Titanic ter afundado - acho até que aquela m* já deveria ter "nascido" um submarino...)
ResponderExcluirConcordo com você: o gostoso do cinema é exatamente o ritual. Caso contrário, os DVD's estão aí, né?
Pois é, ultimamente eu tô preferindo DVD, porque nos cinemas tá brabo...rsrs
ExcluirMas eu nem posso reclamar muito, porque tive uma experiência que só poderia ocorrer no cinema, que foi ver um filme de Woody Allen queimar (literamente a película pegou fogo e ficou marcado na tela). Me senti em Cinema Paradiso...rsrs.
Isso é impagável...
Valeu pela visita! Abraços efusivos!
"É sempre ao meu lado aquele barulho incômodo de gente existindo"
ResponderExcluirNão é o Jorge que tá sempre "existindo" ao seu lado no cinema não, é?
Abraço,
Anderson
Uai, às vezes tenho ido sozinha ao cinema, e mesmo assim ouço gente existindo... Você matou a charada!!!...rsrs.
ExcluirValeu!
Confesso que não estive assíduo, mas tive boas razões!
ResponderExcluirPrometo ler e comentar todos que ainda não fui capaz de fazê-lo.
Quanto à crônica...
Por isso gosto de filme legendado, se eu não ouvir... dá pra ler! ;)
E duplamente obrigado!!! Pelo prazer da leitura dessa crônica e por fazer-me sentir mal por não conhecer "para gostar de ler" ¬¬.
E parafraseando sua melhor comentarista, todo mundo se incomoda com essas coisas, uns menos, outros mais... mas no seu caso pelo menos rende crônica!!!
;)
Eba, você voltou!!! Pelo menos ao blog!!!
ExcluirLeia tudo e comente mesmo, adoro seus comentários!!!
Mas não tenha pressa, tô sabendo (pelo facebook) da sua vida difícil...rsrs.
Beijos!!! Obrigada!!!