Meu amigo ia dizendo, ao me ouvir
reclamar da balança: “Quando a gente chega numa certa idade...”. Interrompi-o
imediatamente! Nem sei exatamente qual
seria a constatação ou o conselho, mas eu não admito, sob nenhuma
circunstância, que me incluam nessa faixa etária periclitante, que é a tal da CERTA
IDADE. E sei que “a gente” foi só uma forma polida de dizer “você”, porque o
meu amigo é um cavalheiro, apesar deste deslize acachapante.
Alto lá, meu amigo! Se me dizem
que eu estou na IDADE CERTA, pode até ser que eu aceite, ainda assim com ressalvas
– sempre aparece algum engraçadinho para fazer aquela pausa misteriosa
(misteriosamente cretina) e, em seguida, complementar a frase com uma piada
irritante. Imagina se me saem com algo como “idade certa pra arrumar um marido”?
Eu, ein! O mais seguro é não colocar as palavras “IDADE” e “CERTA” na mesma conversa,
seja qual for a ordem dos fatores.
Se IDADE CERTA pode ser ruim, CERTA
IDADE é sempre pior. UMA CERTA IDADE é a idade das trevas. Essa CERTA IDADE não
se conta em anos, mas em quantidade de vezes que se vai ao médico, ao bingo ou
às profundezas do ser. Dizer que fulano chegou NUMA CERTA IDADE, é dizer que neste
exato momento ele está lascado, independente de há quantos anos ele tenha
nascido.
Não é simples questão de cronologia.
Absolutamente! Conheço pessoas com várias décadas de existência, mas que não
chegaram nessa CERTA IDADE. E também o contrário, pessoas para quem a CERTA
IDADE chegou espantosamente cedo, antes mesmo de aprenderem todos os 576
significados da palavra relacionamento – incluindo aquele que é sinônimo de “pensar
mil vezes antes de falar”.
Tentar explicar qualquer
infortúnio pelo fato de ter chegado a UMA CERTA IDADE é o mesmo que atribuir
qualquer mau humor à TPM. Se o rapaz está nervoso, é estresse do trabalho, do
trânsito ou peso das responsabilidades mundanas. Se a moça está nervosa, é TPM.
Aprendam, marmanjos insensíveis, que há palavras que são
verdadeiras granadas, cujo manuseio deve ser estudado friamente, sob pena de se
perder um braço (ou outro membro mais estratégico) ao empregá-las erroneamente.
Temeridade máxima: colocando TPM e CERTA IDADE na mesma frase, corre-se o risco
de perder a própria vida.
Quanto ao meu amigo do início da
história, quase sempre delicado, mas que pronunciou aquela frase tão infeliz, peço
desculpas se me excedi na reprimenda. É que cheguei numa certa idade em que já
não levo desaforo pra casa...
Hendye Gracielle
Excelente abordagem! Seu blog fica mais interessante a cada nova postagem. Parabéns!
ResponderExcluirVocê é uma artista das palavras colega!!! Quanto talento!!! o/
ResponderExcluirVOCÊ CHEGOU NUMA CERTA IDADE CEDO DEMAIS gRA, ALIÁS VOCÊ SEMPRE TEVE NELA, EU ESTOU ENTRANDO AGORA, CANSEI DE LEVAR DESAFORO PARA CASA, JA COMEÇEI A FALAR, IMAGINE SÓ QUASE AOS CINQUENTA? APRENDENDO A FALAR, MÁS ANTES TARDE QUE NUNCA.LINDA, TALENTOSA, CHARMOSA, TE ADMIRO MUITO.
ResponderExcluirJOCA.
Ainda bem q eu não tenho TPM...
ResponderExcluirMas acho q já nasci na "certa idade". Ai q infortúnio!!!!!
Adorei o texto, escritora!!!!!!
Dalila.
Você chegou numa certa idade em que pode se dar ao luxo de desfrutar de uma delicada irreverência, traduzida em palavras deliciosas de se saborearem. Crônica de gente grande esta: lúcida, concisa, irônica... Saborosa!!!
ResponderExcluirRelendo, relendo...
ResponderExcluirQue crônica deliciosa! Tão leve e despretensiosa.
Relendo, relendo...
Bjs.
Edilza
Uai, só li agora? como assim? rsrsrsrs
ResponderExcluirMagnífico... rs
kd mais? queremos mais...
Bjos
Te amo!