domingo, 28 de abril de 2013

Por que participo? - Crônica da luta cotidiana


“Faz escuro mas eu canto"
(Thiago de Mello)



Não tenho a ilusão de ver os meus ideais triunfarem neste mundo de indelicadezas e absurdos. Não tenho ilusões, entretanto luto.

Se não se pode consertar o mundo, pode-se mudá-lo. Se não se pode mudar o mundo, pode-se melhorá-lo. Se não se pode melhorar o mundo, pode-se melhorar a si mesmo. Se nada disso for possível, pode-se ao menos tentar. Tentar já é mais que não tentar, sendo, por si só, uma pequena vitória.

São as pequenas vitórias que têm tornado o mundo possível. Para todos, embora resultem do esforço de poucos. Impedir alguma injustiça é uma pequena vitória. Colaborar para alguma mudança é uma pequena vitória. Evitar um mal maior é uma pequena vitória. Respeitar e fazer‑se respeitar são pequenas vitórias. Agir conforme os valores nos quais se acredita é uma pequena vitória, e pode ser a maior delas.

Minha luta é coletiva. Minha responsabilidade, entretanto, é individual. Meu compromisso maior é comigo mesma: com meus próprios valores.

Meus valores de respeito à vida não me permitem ignorar o fato de que todos os dias indivíduos morrem e se acidentam a serviço da empresa em que confortavelmente trabalho. Meus valores de justiça social não me permitem aceitar que muito dinheiro tem sido dividido entre poucos, que no mundo nada criaram e ao mundo nada legarão. Meus valores de generosidade não me permitem aceitar que um serviço essencial à sobrevivência humana seja prestado com cada vez menos qualidade. Meus valores de respeito à dignidade humana não me permitem ficar indiferente sabendo que há colegas e ex-colegas sendo prejudicados; eu me importo, ainda que não seja comigo. Meus valores de solidariedade não me permitem deixar que poucos lutem, sem a minha colaboração, por uma causa que é de todos.

Por isso eu participo desta e de outras lutas. Participo porque, para mim, não existe outra opção possível que não seja fazer o bem. E fazer o bem é, também e sobretudo, não se omitir.

Para que o mal triunfe, basta que as
pessoas de bem permaneçam inertes.
(Edmund Burke)

Este poder! (Pra variar a ilustração, charge do Henfil)

8 comentários:

  1. Não tenho nada a acrescentar, pois você ja disse exatamente o que penso.Parabéns Neguinha, e nos brinde sempre com suas crônicas e comentários inteligentes. Beijos joca.

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    1. Valeu, Joca! Que bom que passou por aqui e gostou da crônica!

      E vamos à luta. Beijos!

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  2. Amor, paixão, amizade, crises existenciais, barata e agora... engajamento político! Só tá faltando a crônica sobre a falta de assunto!

    Mais uma vez, parabéns! Você é, sem dúvida, uma verdadeira escritora. Crônica lúcida e enfática, sem perder o lirismo que caracteriza sua escrita.

    Edilza

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    1. Obrigadíssima pela análise - aquela que fez pessoalmente, de que este comentário é a suma. Sucinta e contundente. E generosa comigo, sem dúvida!

      Obrigada sempre. Beijos!

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  3. As eternas injustiças desse mundo com seus seres incompreensíveis...


    Engraçado q ontem estava pensando, mais ou menos, nisso tudo que vc disse, e cheguei a uma conclusão parecida com a sua...

    Muito boa a crônica, culta!!!!!!

    Dalila

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  4. Hendye,
    belo diálogo com um sentimento de impotência que tanto nos cerca; também com o imediatismo que ferve os mais ansiosos, aqueles que face a dificuldade de materializar resultados, usa como argumento para justificar omissão.
    Crônica de "gente grande"; uma mistura de sensibilidade e responsabilidade, típico da criatura que a concebe.
    beijos engajados
    lucio

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  5. Cara Hendye, eu sou Jorge.
    Minha língua materna é a dos palavrões de Almodóvar (não é o melhor do Almodóvar); por isso o seu Jorge se abraça interculturalmente com o meu "RorRe". Caminho perto de você em ideias e sentimentos, quase como a distância desses apaixonados tão maravilhosamente juntos do poema "Te quiero", de Mario Benedetti. Contudo, lhe confesso que prefiro seu "Meu compromisso maior é comigo mesmo: com meus próprios valores" do que "Respeitar e fazer‑se respeitar são pequenas vitórias". Trato, e você sabe quanto é difícil, de aprender a respeitar, resolvi que meu grão de areia passa pelo modelo, pela mensagem, pela prática... Meu abraço forte. RorRe

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  6. Caro Jorge, que prazer em ler seu comentário, o qual, verdadeiramente, enriqueceu essa postagem.

    O meu amigo Jorge é você (!) – e com esse sotaque delicioso dos hermanos latino-americanos -, sou eu mesma, somos todos nós que partilhamos das mesmas angústias espirituais, das mesmas inquietações sociais, da mesma “dor e delícia” de sermos humanos.

    Mais uma vez, obrigada pela visita, volte sempre, sinta-se à vontade conosco (comigo e com o seu xará invisível).

    Grande Abraço para você!

    Hendye Gracielle

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