“Faz escuro mas eu canto"
(Thiago de Mello)
Não tenho a
ilusão de ver os meus ideais triunfarem neste mundo de indelicadezas e
absurdos. Não tenho ilusões, entretanto luto.
Se não se pode
consertar o mundo, pode-se mudá-lo. Se não se pode mudar o mundo, pode-se melhorá-lo.
Se não se pode melhorar o mundo, pode-se melhorar a si mesmo. Se nada disso for
possível, pode-se ao menos tentar. Tentar já é mais que não tentar, sendo, por si
só, uma pequena vitória.
São as pequenas
vitórias que têm tornado o mundo possível. Para todos, embora resultem do
esforço de poucos. Impedir alguma injustiça é uma pequena vitória. Colaborar
para alguma mudança é uma pequena vitória. Evitar um mal maior é uma pequena
vitória. Respeitar e fazer‑se respeitar são pequenas vitórias. Agir conforme os
valores nos quais se acredita é uma pequena vitória, e pode ser a maior delas.
Minha luta é
coletiva. Minha responsabilidade, entretanto, é individual. Meu compromisso
maior é comigo mesma: com meus próprios valores.
Meus valores de
respeito à vida não me permitem ignorar o fato de que todos os dias indivíduos
morrem e se acidentam a serviço da empresa em que confortavelmente trabalho.
Meus valores de justiça social não me permitem aceitar que muito dinheiro tem
sido dividido entre poucos, que no mundo nada criaram e ao mundo nada legarão. Meus
valores de generosidade não me permitem aceitar que um serviço essencial à
sobrevivência humana seja prestado com cada vez menos qualidade. Meus valores
de respeito à dignidade humana não me permitem ficar indiferente sabendo que há
colegas e ex-colegas sendo prejudicados; eu me importo, ainda que não seja
comigo. Meus valores de solidariedade não me permitem deixar que poucos lutem,
sem a minha colaboração, por uma causa que é de todos.
Por isso eu
participo desta e de outras lutas. Participo porque, para mim, não existe outra
opção possível que não seja fazer o bem. E fazer o bem é, também e sobretudo,
não se omitir.
Para que o mal triunfe,
basta que as
pessoas de bem permaneçam
inertes.
(Edmund Burke)
Este poder! (Pra variar a ilustração, charge do Henfil) |
Não tenho nada a acrescentar, pois você ja disse exatamente o que penso.Parabéns Neguinha, e nos brinde sempre com suas crônicas e comentários inteligentes. Beijos joca.
ResponderExcluirValeu, Joca! Que bom que passou por aqui e gostou da crônica!
ExcluirE vamos à luta. Beijos!
Amor, paixão, amizade, crises existenciais, barata e agora... engajamento político! Só tá faltando a crônica sobre a falta de assunto!
ResponderExcluirMais uma vez, parabéns! Você é, sem dúvida, uma verdadeira escritora. Crônica lúcida e enfática, sem perder o lirismo que caracteriza sua escrita.
Edilza
Obrigadíssima pela análise - aquela que fez pessoalmente, de que este comentário é a suma. Sucinta e contundente. E generosa comigo, sem dúvida!
ExcluirObrigada sempre. Beijos!
As eternas injustiças desse mundo com seus seres incompreensíveis...
ResponderExcluirEngraçado q ontem estava pensando, mais ou menos, nisso tudo que vc disse, e cheguei a uma conclusão parecida com a sua...
Muito boa a crônica, culta!!!!!!
Dalila
Hendye,
ResponderExcluirbelo diálogo com um sentimento de impotência que tanto nos cerca; também com o imediatismo que ferve os mais ansiosos, aqueles que face a dificuldade de materializar resultados, usa como argumento para justificar omissão.
Crônica de "gente grande"; uma mistura de sensibilidade e responsabilidade, típico da criatura que a concebe.
beijos engajados
lucio
Cara Hendye, eu sou Jorge.
ResponderExcluirMinha língua materna é a dos palavrões de Almodóvar (não é o melhor do Almodóvar); por isso o seu Jorge se abraça interculturalmente com o meu "RorRe". Caminho perto de você em ideias e sentimentos, quase como a distância desses apaixonados tão maravilhosamente juntos do poema "Te quiero", de Mario Benedetti. Contudo, lhe confesso que prefiro seu "Meu compromisso maior é comigo mesmo: com meus próprios valores" do que "Respeitar e fazer‑se respeitar são pequenas vitórias". Trato, e você sabe quanto é difícil, de aprender a respeitar, resolvi que meu grão de areia passa pelo modelo, pela mensagem, pela prática... Meu abraço forte. RorRe
Caro Jorge, que prazer em ler seu comentário, o qual, verdadeiramente, enriqueceu essa postagem.
ResponderExcluirO meu amigo Jorge é você (!) – e com esse sotaque delicioso dos hermanos latino-americanos -, sou eu mesma, somos todos nós que partilhamos das mesmas angústias espirituais, das mesmas inquietações sociais, da mesma “dor e delícia” de sermos humanos.
Mais uma vez, obrigada pela visita, volte sempre, sinta-se à vontade conosco (comigo e com o seu xará invisível).
Grande Abraço para você!
Hendye Gracielle