Chico é antigo e sempre novo. No show,
músicas recentes foram intercaladas aos clássicos, melodias consagradas
em harmonia com arranjos moderninhos. Ao longo da noite nos deleitamos ouvindo
todas as canções do novo álbum, “Querido Diário”, “Rubato”, “Nina”,
“Barafunda”, “Sinhá”, “Sem você 2”...
Eu ainda não quis saber quem é a lambisguete que está namorando
Chico Buarque, mas o blues “Essa pequena” e a balada “Se eu soubesse”
entregaram: ele está apaixonado! Dessas paixões que nos deixam bobos, ridículos
como as melhores cartas de amor: “E aí,
larará, larará, liriri...”
Chico é apaixonante!
O samba também estava lá, com cara de CD novo. O músico Wilson
Neves foi cantar com Chico o dueto “Sou Eu”. Tinha cara e jeito de malandro, e
uma voz de sambista que quase apaga o miadinho frouxo de Chico. Mas a
combinação deu certo, e com tanta naturalidade passaram ao “Teresa na Praia, não é de ninguém, não pode
ser minha, nem sua também” que eu já não sabia se estava em Sampa ou no
Rio, no fino da bossa em Copacabana.
Chico é carioca!
Do alheio, além de “Teresa na Praia”, Chico cantou a versão do rapper
Criolo para a música “Cálice”. Foi, digamos, inusitado. Na sequência teve
arranjo rock and roll para a música Baioque. “Quando choro é uma enchente surpreendendo o verão / é o inverno, de
repente, inundando o sertão”.
Junto com “Geni e o Zepelim”, foram os momentos mais agitados do
show. Eu devia estar muito hipnotizada, porque Chico cantou “joga bosta na Geni”, e eu achei lindo!
Estava tudo lindo naquela noite.
Chico é lindo!
Também não faltou o desespero elegante das personagens sofridas de
Chico Buarque. “Chorei, chorei, até ficar
com dó de mim / E me tranquei no camarim / Tomei um calmante, um
excitante, e um bocado de Gim”.
Combinou com o bolero “Sob medida”, quando olhou bem nos nossos
olhos e cantou: “Eu não presto, eu não
presto”. Eu vi cretinice nesse olhar.
Chico é cafona!
Mas Chico Buarque arrebatou a pequena multidão que o assistia, e
arrebentou comigo, foi nos momentos em que cantou as delícias de outrora,
criadas no tempo da delicadeza.
Foi sublime, foi etéreo, foi inebriante. Ou no meu português
corrente: foi de lascar!
“O meu amor”, “Desalento”, “Futuros amantes”, “Teresinha”, “Anos
Dourados”. Naquela noite eu ouvi muitas das canções que inundam meu coração,
canções que me despertam e canções que me acalentam.
“Parece que dizes, te amo,
Maria / Na fotografia, estamos felizes”. Veio a emoção, o choro contido,
minha alma se abriu por inteiro. Uma mão querida providencialmente tocou a
minha, entrelaçamos os dedos, nessa hora eu me salvei e me perdi...
Chico é emocionante!
São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2012. Eu fui feliz!
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